01 dezembro 2009

DA ESTREBARIA PARA O DIA DE HOJE

DA ESTREBARIA PARA O DIA DE HOJE
(Autor: Pastor Egon Drewlo)

Um repórter entrevista várias pessoas na rua, questionando-as sobre o sentido de Natal. O repórter pode ser o narrador de todo o teatro. Se fosse possível, essa pessoa deveria expressar-se naturalmente, não dependendo nem detendo-se em manuscritos.

Cenário: Primeiro, o palco poderia ser dividido em duas cenas paralelas. Numa metade do palco, o repórter estaria fazendo as entrevistas, enquanto que na outra m
possível montar cada cenário separadamente, inventando algo criativo para o tempo em que as cortinas necessitem permanecer fechadas. O quarto cenário também pode ser montado durante uma cena, com a cortina metade fechada ou separadamente.

Personagens:

Repórter, Um senhor idoso, Uma dona-de-casa, Uma criança, Um comerciante, Jovens cristãos (3), Um jovem, Um policial, Uma família com pai, mãe, filha e filho, Sr. Raimundo – sem-terra, Marli, Carlos, Ricardo e Paula

Repórter (R): Estamos mais uma vez escutando a voz do povo a respeito de um assunto que todos conhecem. Estou falando da época que estamos vivendo. Todos estão em plenos preparativos para o Natal. Anos vão se passando e algumas pessoas questionam: o que é REALMENTE o Natal, o que isso SIGNIFICA? Por esse motivo resolvemos escutar a opinião de muitas pessoas e ver o que elas acham que é o Natal.
Bem, vejamos as opiniões. Vamos conversar com aquele Sr. que vem vindo. (Aponta para o Sr. idoso que vem se aproximando. No encontro com cada personagem deve se improvisar alguma saudação que explique o motivo da entrevista. Enquanto ocorre a entrevista, outras pessoas devem ficar passando por perto. Talvez um ou outro querendo aparecer na televisão, outros passando e mostrando interesse)

Repórter: Poderia me dar um pouquinho da sua atenção?

Idoso: Pois não, do que se trata?

Repórter: Para o Sr., o que é realmente o Natal? O que o Sr. pensa a respeito do assunto?

Idoso: Ah! Meu jovem! Natal de verdade era aquele de antigamente. Agora nem se quer parece mais ser Natal. Antigamente, todos se reuniam, tinham tempo para conversar... Lembro que na noite de Natal acontecia aquela festa...(nostálgico). Geralmente havia um pinheiro todo enfeitado... também se ia para a igreja, ver a apresentação das crianças... É, a gente ia, toda a família, era tão lindo... Hoje, nem sei onde estarão os meus filhos, estou só... sem ninguém (pegando lenço, enxugado as lágrimas que começam a brotar, sai caminhando cabisbaixo. O repórter ainda lhe acena).

Repórter: Feliz Natal! (em seguida procura outra pessoa para entrevistar) Boa-noite, Sra. Posso perguntar-lhe o que é o Natal?
Dona de casa: (Cheia de compras de supermercado e presentes)Nem me fale... é aquela correria... comprar presentes para todo mundo, providenciar na ceia de Natal, arrumar a casa, enfeitar o pinheiro, sabe de uma coisa? Eu dou graças a Deus quando isso acaba e podemos voltar a velha rotina. Veja, que por mais que eu procure me antecipar nos preparativos, sempre os últimos dias são tumultuados... é uma verdadeira loucura! Por falar nisso, vou andando, pois tenho muito a fazer e estes pacotes estão cada vez mais pesados.

Repórter: Obrigada, senhora e Feliz Natal! ( Em seguida faz um comentário para a camera, que realmente os dias parecem ser mais tumultuados, pois as lojas estão lotadas de pessoas que escolhem presentes. Em seguida aborda uma criança). Vamos ver o que este garoto (ou garota) tem a nos dizer sobre o Natal! E prá você amiguinho/a, o que é o Natal?

Criança: Sabe, eu esperei o ano todo por isso, nestes dias tudo é maravilhoso, o melhor de tudo é passear pela cidade, ver as lojas enfeitadas com pinheirinhos, presépios e algumas tem até Papai Noel que distribui balas. Em casa a gente ganha presentes, eu adoro isso.

Repórter: Está bem, meu/minha garoto/a, obrigada...tchau! (Aproxima-se de um comerciante) E para o Sr., o que é o Natal? O que o Sr. faz?
Comerciante: Bem, eu sou comerciante...

Repórter: Ah, então o Sr. deve estar feliz nesta época de muitas vendas! Mas, o que é o Natal para o Sr.?

Comerciante: Olha, nunca parei para pensar no assunto, só sei dizer uma coisa: é uma época em que a publicidade explode. As vendas aumentam bastante, apesar da crise... e tudo isso fortalece a economia. No meu ramos é isso que realmente precisa acontecer. Assim, sou um homem realizado. Eu procuro oferecer produtos que agradem a todos e aumentar assim meu faturamento. Não sei profundamente o que é o Natal, mas sei que com os lucros desta época até durmo melhor...

Repórter: Ok! Obrigado! (E agora vira-se e fala para a câmera) Senhores telespectadores, estamos nas ruas de nossa cidade para ouvir do povo acerca do Natal e não esqueças os melhores presentes estão na casa Serrana... E fique aqui para ficar melhor informado... Vamos falar agora com esse/a jovem que se aproxima... Ei, cara, prá você, o que é Natal?

Jovem: Sabe, bicho, eu só sei de uma coisa: são dias que a gente pode curtir à beça. Fazer aquela festa e se divertir prá valer, sem essa de ficar em casa, só amassando o sofá... o jeito é agitar a sair a mil por aí. Depois que a gente tá meio “alto do chão” é tudo muito legal, parece que a gente tá no céu. Tô com todo programa montado com minha turma, nós vamos agitar essa cidade nestes dias, mesmo se o coroa quer que a gente fique em casa... com esse papo careta de reunião de família... Valeu cara, tchau!

Repórter: Tchau! (para a câmera) Olhem só, estão todos mesmo se preparando para o feriadão e queremos avisar aqueles que viajarão deixando a cidade: comunicado da rodoviária nos alerta que estão sendo colocados ônibus extras para a praia, mas não perca tempo vá logo comprar sua passagem para evitar desgostos de última hora... (Vendo um policial que ali caminha diz:) Vamos ouvir agora, este representante da lei e da ordem. Seu guarda, op que é Natal para o Sr.? São dias como outros em sua profissão?

Policial: São dias que as pessoas esquecem que devem ser prudentes e cuidadosas, são dias que, segundo dados estatísticos, ocorre o maior número de acidentes nas estradas. Todos querem ser donos das estradas e não respeitam pedestres e sinalizações, assim, dias que deveriam ser de festa, acabam sendo dias de dor e sofrimento para muitos. Eu gostaria de deixar meu apelo, aos senhores telespectadores para que tomem cuidado e tenham realmente boas festas!

Repórter: Bem, depois dessas opiniões os senhores podem ver que cada um tem a sua idéia a respeito do Natal. Poderíamos reunir centenas de pessoas e cada uma teria uma idéia diferente. Continuem conosco, voltamos após os comerciais. (Fecha-se metade da cortina. Neste tempo, com a cortina metade fechada, prepara-se o cenário para a terceira cena, no mesmo espaço que o repórter ocupava)

Filha: (Família, assistindo televisão, numa sala de estar) Puxa, mãe, lembrei-me que ainda não comprei um presente para minha amiga. Que mancada... já pensou se esqueço?

Mãe: Mas minha filha, nessa época de crise não se pode dar presente a todo mundo. Temos que nos deter em presentear os amigos mais achegados e parentes. Mande um cartão que além de ser muito mais comunicativo é também mais barato...

Filha: Eu pensei nisso mãe, mas é que eu economizei bastante nos últimos tempos. Não vai ser preciso pedir dinheiro pro papai, eu me arranjo.

Mãe: Manuel, não se esqueça do pinheiro.,

Pai: Não te preocupes, eu sei o que isso significa. Antigamente era a maior festa enfeitar o pinheiro, era divertido, eu adorava. Quero proporcionar essa alegria para meus filhos, nem que tenha que procurar um pinheiro lá nos confins da colônia.

Mãe: Você tem razão. Sem pinheiro, Natal não é Natal. Por falar nisso, vou arrumar também o presépio, para que minhas amigas possam vê-lo. Quero deixá-las babando de inveja com a decoração do presépio e da própria casa... Tenho algumas idéias que vão ficar uma beleza.

Filho: E por falar em Natal, o que vou ganhar de presente? Será que já esqueceram que me prometeram uma moto se eu passasse de não? Eu cumpri minha parte, espero que cumpram a promessa de vocês.

Mãe: Eu sei meu filho, mas tu também sabes que ninguém anda em condições financeiras boas, mas eu nunca deixei de cumprir meus acordos. O consórcio está quase todo paga e pode ser que até o Natal, a moto saia para nós.

Filha: Sabe de uma coisa! Vamos dormir que está ficando tarde, amanhã temos que levantar cedo. Além de tudo, esse programa está chato. Imagine só, ficar ouvindo esse papo furado , tem cada opinião... só vendo prá acreditar.

Filho: Eu vou ficar assistindo. Vou trocar de canal prá ver se encontro algum filme para assistir. (Fecham-se as cortinas. Abre-se a cortina, com o cenário da realidade dos sem-terra. Seu Raimundo com crianças maltrapilhas agarradas em suas pernas e uma mulher).

Repórter: Senhores telespectadores, neste meio tempo nos deslocamos com nossa unidade móvel aqui para o interior de nossa cidade onde encontramos seu Raimundo e sua família. Sr. Raimundo, para o Sr. e sua família o que é o Natal?

Raimundo: Buenas, Natal sempre foi uma alegria no tempo em que nós tinha nossa terrinha. Nós se alegrava de festejar o aniversário de Jesus mesmo que modestamente. Hoje temos somente as mãos calejadas e trabalhar para os outros.

Repórter: O que vem a ser essa construção? (apontando para um telhadinho)

Raimundo: Ali a gente se reúne quando vem o pastor ou o padre. Nos reunimos e lemos a Bíblia, aí a gente fica sabendo que Deus caminhou com seu povo para a terra prometida... e terra prá nós é vida.

Repórter: Mas, Sr. Raimundo, o governo já está cuidando da situação de vocês...

Raimundo: É, mas todos se vendem e nós não temos dinheiro prá comprar alguém para defender nossas idéias. Estamos no deserto, é o que lembro do último estudo bíblico. Mas temos que passar por esse deserto, Jesus está bem perto de nós, ele também nasceu pobre e em dificuldades. Por isso nós não podemos desanimar. O pastor disse que o Advento é a chegada de Jesus ao mundo... que ele veio e virá... Para nós aqui no acampamento, Advento e Natal é esperança de vida, vida que para nós é terra. (num ato de desprezo, o repórter o interrompe
Fazendo um gesto rápido e pedindo os comerciais. (Fecham-se as cortinas pela metade e abre-se o lado que estava sendo preparado. Um barzinho de gente jovem, com som e bebidas)

Marli: (Chegando no bar enquanto que os outros três já estão numa mesa) Que bom encontrar vocês, desde que terminou a aula na faculdade nunca mais encontrei a turma... Os fins de semana estão uma chatice, nem parece que estamos de férias.

Paula: Ora, pare de reclamar, é só passar estas festas que o pessoal volta. Nestes feriados de Natal todo mundo vai ver os familiares, por isso quase não encontramos ninguém...

Carlos: Parece que foi ontem a última festa de Natal... Uma festa que todos saíram do chão...

Ricardo: Vocês assistiram aquelas entrevistas na televisão? O repórter perguntava o que significa Natal prá cada um...

Carlos: Mas sabe, eu nunca tinha parado prá pensar. Este programa até chamou minha atenção. Lá em casa, por exemplo, tá a maior bagunça. É empregada prá todo lado, lavando, pintando, arrumando os móveis, redecorando a casa... Eu nem consigo me sentir bem no meu quarto... A mãe tem mania de revirar a casa todos os ano nessa época. Só prá dar aquele tradicional jantar de família... Os parentes próximos vêm... e nos obrigamos a fingir que está tudo bem... Eu fico imaginando de onde eles tiram aquela cara-de-pau...

Marli: Qual é, cara, deu uma de moralista agora? Desde quando tu ficas encucado com problemas familiares?

Ricardo: É todo mundo acaba, um dia, caindo na real, mas acaba mesmo é na fossa... Pois quando se tenta mudar alguma coisa, acaba-se esbarrando num monte de gente. E na maioria da vezes, ficamos cá com nossos botões... Somos forçados a deixar o mundo rolar... O coroa lá de casa tá em cima de mim: “Quando você vai virar gente? Crescer e ser alguém?”

Paula: É mesmo, muitas vezes fico me questionando sobre tudo que me rodeia, mas existe tanta coisa que acaba sufocando a gente! Todos pensam que nós jovens não temos objetivos na vida, mas não nos deixam perseguir nossos intentos..., nem querem conhecê-los... querem nos moldar ao modo de todos viverem...

Marli: Pôxa, gente, que papo mais baixo-astral! Eu vim aqui para arejar a cuca e vocês acabam me encucando ainda mais! Isso é papo prá se levar só daqui a alguns anos...

Ricardo: Bom, prá agradar gregos e troianos, já que a gente não consegue mudar a coisa... que tal darmos umas voltinhas... vocês topam?

Todos: Vamos! (Fecham-se as cortinas e reaparece o repórter)

Repórter: Senhores telespectadores, agora queremos ouvir os jovens da igreja cristã, que previamente contactamos para este encontro e diálogo. Eles querem nos clarear as idéias a respeito do significado do Natal, com um fundamento bíblico-teológico, pois o fundamento cristão está muitas vezes deturpado pelos anos e falta de esclarecimentos.

Jovem 1: Senhores e senhoras, vimos até aqui nessa reportagem, cenas onde o verdadeiro sentido de Natal está quase ausente. Estas cenas nos mostraram que o sentido do Natal se perde em coisas e costumes, os quais além de serem afazeres desgastantes, deixam de ser refletidos em seu verdadeiro sentido e acabam deturpadas pelo comércio e a exploração. Por exemplo, o verde da árvore de Natal significa esperança e presença de vida – tal como na primavera. Para nós, são esperanças e vida proclamadas por Jesus Cristo, o Senhor do mundo.

Jovem 2: (Pegando o microfone). Também gostaria de dizer que existem muitas pessoas que usam colocar na porta a coroa de Advento. Seja em escritórios e estabelecimentos comerciais. Creio que muitos não sabem o que significa. Com esta decoração estamos anunciando que o Senhor, ou o menino nascido na estrebaria e à margem da sociedade daquela época e à margem nos dias de hoje também, tem um reino infinito, ele é o Rei deste mundo apesar de rechaço e repúdio da estrebaria e da cruz. (Faz um gesto de quem falou e disse e entrega o microfone ao repórter).

Repórter: Senhores e senhoras, estamos aqui para saber mais e queremos ouvir o que a igreja tem a dizer acerca do Natal!

Jovem 3: Nós vemos que muitas pessoas que se dizem cristãs não vivem a “boa nova de alegria” proclamada pelos anjos aos pastores, porque separam a sua vida cotidiana da sua fé. Deixam Deus na estrebaria e na cruz sem entender que isso não foi por acaso, Deus quis falar para dentro de uma realidade que apresenta esses fatos diariamente – Deus, em seu filho condenou estas realidades – não as justificou ou relevou!

Jovem 1: Mas nós reconhecemos através da fé que temos que o Natal tem caráter de festa e alegria, porém, sem deturpação do seu sentido. Esta alegria não pode nos levar a esquecer os problemas que afligem nossa sociedade e os menos favorecidos. Como o caso de Raimundo, que por causa da ganância, em última análise, foi largado em sua situação.

Jovem 2: Por isso, nós cristão e cristãs que convivemos nesta sociedade, também o Natal significa arrependimento. Natal é transformação na vida em palavras e ações diárias.

Jovem 3: Vejam bem, Deus veio ao encontro de sua criatura e do mundo. Isto é amor e por isso somos motivados e convidados a amar não só nossos convivas, mas principalmente, aquele que é feito pela sociedade, um pequeno, um insignificante.

Jovem 1: Gente querida, Natal apesar de tudo que nos oprime e entristece é um convite para alegria. Alegria que se dá e se oferece nos 365 dias do ano.

Jovem 3: Para nós, o que Cristo revelou é o amor que tem por nós, antes de podermos agir, antes de podermos amar ele já amou primeiro.. Por isso o Natal também é um convite à gratidão.

Jovem 2: Pensem nisso... e não esqueçam do Natal nos 365 dias do ano.
Repórter: Temos que encerar agora senhores e senhoras. Desejamos a todos um Feliz Natal!

FIM

Nenhum comentário:

Postar um comentário